terça-feira, 15 de novembro de 2011

Inclusão X Acessibilidade

A moda é falar em inclusão. Na teoria, lindo; na prática, praticamente inexistente.
Sou professora e sempre discutimos muito esse tema nas escolas. Confesso que minha oratória hoje, após o nascimento do Pablo, mudou muito.
Eu realmente acredito que a inclusão seja o ideal a ser buscados por todos, deficientes ou não. Mas vejo que as coisas vêm sendo feitas de forma extremamente equivocada. Inclusão não tem absolutamente nada a ver com caridade ou piedade. Na minha opinião a inclusão só existe quando passa desapercebida aos olhos de tão comum e normal que se parece. Só assim pode-se dizer que existe inclusão. Enquanto o normal for visto como diferente (sim, deficiente é normal) a inclusão vai sempre me parecer caridade ou piedade.
Mas na verdade o propósito do post não é apenas esse, colocar minha singela opinião (que com certeza passará por mudanças de acordo com minhas vivências, coisa normal a todos nós). Eu queria colocar aqui minhas experiências a respeito desse mundo tão "moderno", que adora falar sobre a tal inclusão.
Sinceramente acho impossível haver qualquer tipo de discussão sobre esse assunto sem discutir a acessibilidade. Um deficiente que não tem seu direito de ir e vir respeitado jamais se sentirá incluído. São tantos os obstáculos que vcs nem imaginam, por isso resolvi colocar aqui apenas alguns dos que tenho encontrado junto ao meu filho Pablo.
Começando então pela arquitetura. Hoje em dia, ao entrar em qualquer lugar, mesmo não estando acompanhada do meu filho, procuro observar se exite acesso igual para todos. E a resposta na imensa maioria das vezes é NÃO.
Imagine vc, dependente de uma cadeira de rodas, precisar de ajuda para as tarefas mais simples, como entrar em uma loja de sapatos, fazer um lanche em uma lanchonete, entrar em um cinema...
E as ruas e calçadas? Uma vergonha! As calçadas são armadilhas, cheia de buracos. As rampas para travessia são uma piada a parte. Quando tem, ou são muito íngremes ou existe a de descida mas não existe a de subida na outra calçada.
E as vagas de deficientes? Quase sempre estão ocupadas por pessoas "educadas" e com muita pressa (justificativa padrão) mas que não possuem deficiência alguma. Chego a acreditar que nessas horas devem até desejar ser deficiente.
E os ônibus? Aqui até não posso reclamar da quantidade de adaptados, que me servem muito bem. O que não consigo entender é pq alguns motorista ainda insistem em desrespeitar o DIREITO do usuário. Muitas vezes já fui deixada no ponto (creio que por preguiça do motorista em abaixar a plataforma para eu entrar com o Pablo). Além disso existem motoristas que me negam a entrada pq meu filho não usa cadeira de rodas padrão. Ele anda no carrinho, mas tem a carteira de deficiente. O carrinho é a cadeira de rodas dele, já que pelo seu tamanho não pode ser transportado na cadeira padrão ainda (ele tem o tamanho de um bebê de 1 ano).
Já perdi as contas de qtas vezes precisei brigar para ver o DIREITO do meu filho RESPEITADO. Mas isso eu faço com orgulho.
Muita gente vai dizer: Tá reclamando de barriga cheia. As coisas já melhoraram muito. Além disso, quer que todos os lugares tenham acesso para cadeirantes? Nem tem tanto cadeirante assim no mundo!
Sim, as coisas realmente já foram piores. Mas se pensarmos bem, já vivemos até nas cavernas! Então, se queremos viver de coisas boas, os deficientes tb querem, pq não?!
Realmente os deficientes são a minoria. Que bom pra quem pensa assim! Justificaria tantas atrocidades praticadas pelo mundo! As minorias que se calem pq a maioria é que tem vez.
Eu quero muito ver um mundo onde meu filho e todos os outros deficientes possam ser vistos como normais, pq é assim que eles são. Tenho 4 crianças em casa e não consigo ver anormalidades entre elas, a não ser as diferenças genéticas e temperamentais comums a todos os seres humanos do planeta.
Meu filho tem o direito de ir e vir, de conviver com os outros e, princialmente, de ser visto como o ser humano que é. Um menino incrível, com suas habilidades particulares e totalmente normal. Não é doente, não é coitado, não é um fardo. É um cidadão qualquer, que merece ter seus direitos preservados. Tem uma mãe brava (rsrs) que vai lutar por ele e pelos iguais a ele.
Fica aí a pergunta: É possível haver inclusão sem acessibilidade (de verdade, como deve ser)?

10 comentários:

Jo Malcher disse...

Roberta, todo mundoquer uma fatia do bolo né. Imagina, uma vaga, de deficiente,sobrando ali do ladinho da porta, o cara quer ser deficiente nessa hora. O que devemos refletir hoje é justamente isso. Privilégios. Queremos eles ou direitos? Pois até os dias de hoje, o que não temos de verdade são os direitos, e assim teremos mais e mais candidatos a deficiência, pois como disse anteriormente, todos querem um pedaço desse bolo.

Pat disse...

Ótimo post, pq eu já fiz uso de cadeiras de rodas quando tive a crise da minha doença, uma vez em um dos maiores shoping de São Paulo tive dificuldade para entrar no elevador, pois era minusculo, nas lojas entrar era facil o dificil era se mexer e conseguir sair!!! Horrível msm. Na escola só tinha escadas e minha sala, claro era a ultima, sorte q a coordenadora tentou adaptar ao máximo as minha necessidades! Mas ainda falta muitoooo. Hj em dia só uso a traqueo, mas quando sento em acentos reservados tds me olham com cara feia, acham q essa garota nova está sentada ai, MAS É MEU DIREITO E VOU CONTINUAR SENTANDO!!! já ouvi cada coisa na rua e até msm de pessoas próximas, q cadeira de rodas atrapalha e nós q termos q nos adaptar ao lugares, mas não é assim, os lugares q tem q se adaptar a nós, pagamos nossos impostos iguais a td mundo, não quero ter preferência pq acham q nós somos coitados, quero simplismente iguladade!!!

Natália disse...

CONCORDO PLENAMENTE COM VC. SÁBADO EU SAI COM MEU MARIDO E MEU FILHO (NO CARRINHO DE BEBÊ), A GENTE TINHA IDO COMPRAR UM PORTA RETRATO P MINHA SOGRA, A LOJA TEM 2 ANDARES, COMO NÃO ESTAVA ACHANDO NA PARTE DE BAIXO, PERGUNTEI AO VENDEDOR ONDE TINHA, ELE ME DISSE NO 2º ANDAR. EU PERGUNTEI "TEM ELEVADOR?", ELE ME DISSE QUE NÃO. MEU MARIDO SUGERIU QUE EU ESPERASSE E ELE SUBISSE. DISSE A ELE QUE NÃO IRIA COMPRAR EM UMA LOJA QUE NEM SEQUER TEM ELEVADOR OU RAMPA, OU SEJA CADEIRANTE NÃO PODE COMPRAR UM PORTA RETRATO NAQUELA LOJA. DEPOIS QUE TIVE O GABRIEL, ANDO MUITO DE CARRINHO COM ELE, COMECEI A PRESTAR ATENÇÃO EM QUANTOS OBSTÁCULOS EXISTEM NAS RUAS, LOJAS QUE PRA ENTRAR TEM QUE SUBIR ESCADAS E SÓ. MEU MARIDO ACHA QUE SOU IMPLICANTE, MAS É A MAIS PURA VERDADE. GRAÇAS A DEUS MEU FILHO NÃO TEM NENHUM PROBLEMA, MAS E SE TIVESSE? SERÁ QUE ELE PENSARIA DIFERENTE?
MAIS DE UMA VEZ JÁ QUESTIONEI COM GERENTES DE LOJAS QUE SÓ TINHAM ESCADAS COMO ENTRADA, ELES FICAVAM SEM GRAÇAS E DIZIAM QUE IRIAM TENTAR RESOLVER. RESOLVER QUE NADA, CONTINUA TUDO DO MSM JEITO.
a ALGUM TEMPO TENHO ENTRADO NO SEU BLOG, NÃO DEIXAVA COMENTÁRIOS, PORQUE SINCERAMENTE VC ME EMUDECIA, FICAVA SEM O QUE DIZER, O QUE FALAR PRA UMA MÃE TÃO BATALHADORA COMO VC? TE ADMIRO MUITO, ESSA SUA ALEGRIA E GARRA PRA LUTAR PELA FELICIDADE DO SEU FILHO É LINDA... DEIXO AQUI PRA VC MINHA ADMIRAÇÃO... BJUS

Grilinha disse...

Bom post esse roberta.

Gostei muito. Dois países diferentes, a mesma realidade.

Bjinhos

sandra disse...

Beri, você tem toda a razão. Não podemos ficar quietos e calados, frente a tantas injustiças. Como professora sempre questionei muito a tal da "inclusão". Sempre questionei, pois é lindo de se dizer, mas a prática é comletamente diferente do discurso. Quem sabe um dia tudo vai mudar, se as pessoas resolverem não se calarem e realmente correrem atrás dos seus direitos. Mais uma vez deixo aqui registrado a admiração que tenho por você. Super mãe, forte e amável!! Tem que ser brava SIM . Nossos filhos merecem!!!
Beijocas para esse quarteto lindo. Pablito, beijocas nessas bochechas lindas e fofas.
Sandra

Sandra Nogueira disse...

Cara Beri,
além de mãe da Helena sou arquiteta urbanista e professora em uma Universidade de uma disciplina que trata exclusivamente de acessibilidade. Ministro esta disciplina a quatro anos e como não via resultados "potenciais", vamos dizer assim, na postura dos alunos pós inserção no mundo das necessidades especiais e hoje dos portadores de deficiências físicas tomei uma atitude. As minhas duas primeiras aulas são um "exercício de vivência" que consiste em fazer com que todos os alunos utilizem os diversos espaços do campus universitário (salas de aula, lanchonete, biblioteca, áreas administrativas, laboratórios, bancos e refeitórios) em cadeiras de roda, com muletas, vendados e com protetores auriculares. Depois desse banho de realidade partimos para o estudo das normas de acessibilidade e das modificações necessárias para que todas as pessoas possam usufruir dos espaços de forma autônoma e independente. Como arquiteta urbanista me decepciono cada vez mais com a aplicação das normas de acessibilidade nas cidades e nos espaços públicos. Estamos muito bem servidos no Brasil com as chamadas Normas técnicas brasileiras (NBRs), dentre as quais a 9050 trata especificamente de acessibilidade, mas ao mesmo tempo pobres na sua aplicação e principalmente na fiscalização do seu cumprimento o que faz com que pouquíssimos espaços sejam plenamente acessíveis.O que gosto de dizer aos alunos é: ser diferente é normal e quem de nós não chegará a uma idade em que as limitações pesarão mais do que as habilidades? Todos ficaremos idosos e com dificuldades, não precisamos ser deficientes ou diferentes. Enfim não é uma questão de piedade e nem de caridade é sim de DIREITO E CIDADANIA. Estaremos sempre na luta pelos nossos pequenos e por todos aqueles excluídos e marginalizados por serem minoria! Parabéns pelo post, cada um usando seus meios pode fazer um pouquinho e juntos um tantão...

Cristina Camargo disse...

Parabéns, Beri. Como jornalista, acompanha essa causa e é verdade que a acessibilidade evoluiu nos últimos anos, mas ainda falta muito. E se evoluiu - e vai melhorar ainda mais - é porque tem pessoas que lutam por isso. Sobre os deficientes serem minoria, uma boa resposta é a seguinte: todo mundo pode ter necessidades especiais um dia. Ou por causa da idade, ou por causa de algum acidente, etc. Todo mundo no mesmo barco!!

Professora Suzanne disse...

A sociedade precisa deixar a hipocrisia de lado e parar de fingir q vivemos numa sociedade inclusiva. O q acontece na maior parte das vezes é uma adaptação do 'nosso' mundo ao mundo 'deles', dos q não sao considerados normais. Não vejo inclusao, nao vejo acessibilidade. Isso acontece somente nos espaços onde frequentam predominantemente as pessoas com necessidades especiais; como por exemplo, as APAES, INES, FENEIS, GRAAC etc. Do ponto de vista da autonomia, do direito de ir e vir, as pessoas com deficiência não têm esse direito garantido.
ACESSIBILIDADE p mim é td e qqer detalhe q fará com q meu filho e o seu possam frequentar os mesmos lugares, sem q a deficiencia ou nao seja posta à prova. E isso, infelizmente, não existe.
Se melhorou? Não sei... talvez... mas é mto pouco... ainda é mto pouco.
Uma sociedade evoluída é aquela q pensa nos seus, em todos eles, em todas as diferenças... É uma pena estarmos tao longe disso.
beijos da mana

Maria Clara disse...

Mas que post perfeito. Disse tudo que eu queria dizer faz tempo, e não conseguia. Obrigada.

Andreia disse...

Beri, concordo totalmente com o teu post e com a tua revolta. Em Portugal tudo se passa de forma semelhante e vergonhosa. Os lugares são ocupados por pessoas apressadas, ou simplesmente mal educadas, as rampas para atravessar a rua com carros estacionados, etc. Vê-se algum cuidado com novas construções, com colocação de rampas de acesso, no entanto como a fiscalização falta (como em tudo o resto...) e as punições não existem, estamos muito longe de ter um mundo acessível. Para TODOS. Tal como diz a Natália, foi também quando nasceu a minha filha que experimentei as reais dificuldades de circular com um simples carrinho de bebé. E senti-me muito limitada, com os nossos direitos cortados, por gente sem princípios! É uma questão de respeito pelo próximo! Com frequência tive que circular na rua, por suas excelências estacionarem simplesmente em cima do passeio!
Por isso tratam-se de questões básicas de Cidadania, para que todos possamos habitar os mesmos lugares/cidades.
Como diz a Sandra Nogueira, as pessoas esquecem-se que vão ficar mais velhas, mais limitadas. Espero sinceramente que as mentalidades mudem e que as pessoas que te deixam no ponto, não fiquem um dia a ver o onibus passar...

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